sábado, 25 de dezembro de 2010

O pulso ainda pulsa... a impusividade.

A pessoa entrou, esbaforida, nervosa. Todos ao redor poderiam dizer que algo não estava certo com ela. Um olhar meio de louca. Chegou ao balcão da farmácia, bateu nele e chamou o atendente. Este olhou assustado pro ser humano em estado lamentável. Disse a pessoa:
- Por favor, gostaria de saber se tem um remédio... Sei que eu deveria consultar um médico, mas não tenho tempo pra isso.
- Que remédio seria, senhora?
- Não sei o nome! Você que tem que me dizer...
- Pra que seria então?
- Pra impulsividade.
Um momento de silêncio, o atendente pensou, olhou para as prateleiras cheias de remédios, e disse:
- Bom... tem o passivotril... Tem o genérico dele também, o passivolida de calmil.
- Hum, ótimo. Mas em quanto tempo começa a fazer efeito? Porque preciso pra ontem.
(Nessa hora a pessoa dá uma tremidinha, como se estivesse com frio. Lá fora fazia 32°C.)
- Olha, é um tratamento meio demorado... Começa a fazer efeito depois de duas semana de uso, mais ou menos.
- Não, não pode ser.
- Também tem uma outra opção... Aqui do lado tem uma farmácia de homeopatia, eles tem pra impulsividade o refletionum aeternum. Mas creio que demore mais pra fazer efeito que o passivotril...
Com um murro na bancada:
- Não! Não posso esperar, você não tá me entendendo.
(Desespero já tomando conta da pessoa.)
- Senhora, é o que dá pra fazer.
(Agora se alterando, aumentando o tom da voz. Em clima de confissão.)
- As pessoas acham que é fácil ser impulsiva. Somos vistos como gente engraçadinha, com um parafuso a menos. Mas digo o quanto se sofre. E não adianta vir com esse papo de pensar duas vezes antes de fazer. Em alguns casos, até podemos pensar duas, três, quatrocentos e vinte e sete vezes. Mas não deixaremos de agir. Talvez, tenhamos um pequeno "defeito" no crivo da razão. Até tentamos, mas a coisa acontece. Falamos, fazemos. E haja força de vontade de aturar as consequências. Arrependimentos... Que depois são transponíveis, com grande maestria. Já nos acostumamos. Mas chega uma hora em que não aguentamos. Bem, talvez não todos. Alguns até gostam de ser impulsivos, são adeptos do "melhor se arrepender do que não fiz do que do que fiz". Mas eu não. Não aguento mais. Não. Aguento. Cansei. Definitivamente.

Após essa verborragia histérica, a pessoa parece se acalmar. O atendente, resignado, diz:
- Bom senhora... Há uma outra opção. Talvez não tão fácil de ser aceita, mas com certeza mais rápida e eficaz.
(Ela quase pula em cima do atendente, numa pulsão desvairada.)
- O quê?? Diz agora, por favor. É algo injetável? Vai doer? Não me importo.
- É, pode-se dizer que sim... Mas quando for, na mesma hora você não sentirá mais NADA.
- Então, melhor ainda. Cadê?
- Mas não vende aqui. Só naquela lojinha do outro lado da rua. Ali. (Disse apontando pra fora da farmácia, a pessoa acompanhando a mão e o dedo em riste, e mirando nervosamente pra onde apontava.)
Do outro lado da rua, uma lojinha de armas.
A pessoa teve suas feições completamente modificadas. Parecia que tinha alçado a paz, o nirvana, encontrou a luz, escolha qualquer dessas epifanias que todas descreverão.
E sem se virar, agradeceu, e caminhou... Rumo à saída, à rua... ao outro lado da rua. À pequena lojinha de armas.