terça-feira, 19 de outubro de 2010

To hell with the cats, or beyond

Caminhando na noite, confusa
Luz difusa
Assombra
Uma sombra
Que pensei ser um gato, saindo do mato
Não é primeira vez
Felino tem essa mania, já fez
A vocação pro parecer fluir, flutuar
De noite, ao luar
Parece que seu poder aumenta, teoria que se sustenta
Por povos, e adoradores
desses não amadores
Na arte de esvaecer, e aparecer
Quando tu menos esperas...
Deveras
Seres da noite, da escuridão. Podem causar pavor, com a destreza inata para ocultação
Ou manar amor, no âmago do mais amargo, sofredor
Digitígrado... Contigo, Como lido?
E não muito certa, mas teorizo, como nunca, desperta:
Oferecem contato com algo metafísico, portal a algo além...
E quem dirá que era sombra, ou gato, ou... quem?


*Tentativa absurda e incipiente de fazer poesia. E com rimas, que coisa, não?
Mas sem vergonha o suficiente pra postar.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

My way

Acordou como nasce, das profundezas do sono e de algum sonho confuso, sem muita noção do que estava acontecendo. Como sempre. Algo automático. Levantou, tomou banho, café e foi trabalhar. Quase sempre encontrava as mesmas pessoas passando, mas não poderia dizer. Começou a acordar, e com ele (o ato), a pensar, como de praxe. Sentiu-se acuada pelas pressões da vida. Tinha que trabalhar com o que mais se aproximasse do que gosta e como o sistema dita. Ganhar dinheiro. Aí vem a próxima fase (como um vídeo-game mesmo, essa vida): Precisa sair de casa. Ganhar outra casa. Viver outra vida. Não, não outra vida. Mas uma amálgama do seu eu anterior e posterior, como um divisor de águas. Incrível como não tinha medo. Quer dizer, até tinha, em alguns momentos de lucidez. Mas eram raros, não se deixava levar. E como momentos não lúcidos podem ser o melhor? Pois eles é que dão a coragem de fazer o que se quer, sem pensar muito sobre. Se jogar do precipício. De olhos fechados. Tiro no escuro. Num jogo mesmo de sorte. Escolham uma metáfora, todas bem aplicáveis. Se daria certo, bom, depois veria isso. Sentia ser esse mesmo o caminho a seguir. Morar sozinha. A sua melhor companhia era ela mesma, então, raios, não teria problemas com o inquilino. Só aumentaria sua cota de responsabilidades. Pagar contas? Sai na urina. Normal. Quer dizer, quando se lembra. Arrumar casa... Aí sim, um problema. Nunca foi muito organizada. Bom, diarista duas vezes por mês e o resto vai levando. Cozinhar? Gostava e sabia. Só não sabia se não teria preguiça. Fazer comprar no mercado? Algo meio complicado. Pois por mais que adorasse cozinhar, não gostava de escolher os alimentos. Frutas e legumes então? Chato. Mas era preciso. Mas o que era mais preciso ainda, era a tão almejada liberdade. Liberdade... Quase nunca tinha a chance de pronunciar tal palavra. Numa conversa com colegas de trabalho, disse ser essa a única recompensa de algumas atribuições que estariam por vir. Teria liberdade. Pra si mesma. Ser e fazer o que bem entende. Não dar mais satisfações. Isso soa como um sonho distante, em nuvens fofas e límpidas, e celestiais. Era algo que sempre quis. Sempre mesmo, já ensaiando nas primeiras independências da vida.
Desde pequena, quando lia nos seus livros suas heroínas independentes e felizes com isso, já sentia querer o mesmo. Feminismo soa muito forçado, não é isso. É simplesmente querer ser e ser de fato, o que se quer, independente do gênero do corpo em que foi "abençoada" sua alma. Sempre se indignou e rejeitou viver como a porra da sociedade quer ver uma mulher viver. Era o que era. Muitas vezes achou-se homem, no sentido do ser livre que é atribuído pela própria sociedade aos seres masculinos, por sentir essa liberdade transbordando pelos seus poros (tirando a parte, claro, da violência que se vê por aí. Ficar perambulando pela rua madrugada a fora, no Rio de Janeiro, não é independência, mas burrice). Sempre se deu melhor com os homens, pois entre eles não há travas de comportamento. Falam, agem como querem. Mas tem que admitir sentir muito orgulho e satisfação pelas mulheres que na vida seguem caminhos diferentes dos pré-traçados às mulheres em geral pela sociedade e/ou suas famílias. Uma conquista? Sim, é fato. Vida bandida, vida de cão, vida filha da puta mesmo essa. Então ser mulher era mais uma luta a se lutar. Mas não, não é feminismo. É tão demodê... nem só por isso. Separar as pessoas pelo seu gênero, francamente, só serve na hora das relações, digamos, no sentido bíblico (risos). Nas outras relações, não gosta de fazer distinções. Mas creio que muitas poucas pessoas pensem assim. Os próprios homens, que ela tão admira, fazem isso. Quando uma mulher está no meio, não tem como agirem do mesmo jeito. Paciência. Porém, admite, sente um pouco de repulsa e desprezo por mulheres femininas demais. Digo feminino aqui pejorativamente mesmo. Mas, contradizendo-se, ela também tem seu lado feminino. Fato, honesto. Admite (muitas admissões...).
Bom, já fugindo do que pensava inicialmente. Mas devaneios são inerentes ao ser humano. Nos levam a lugares muito diferentes do ponto de partida. E assim nascem as boas ideias. A quem se deixa levar, sem amarras de qualquer tipo, sem recalques (ai, Freud...), alcança coisas que, possivelmente, nunca seriam pensadas.
Volta então agora a sua questão principal: sua liberdade. Tudo novo. Conquistas. Cada dia vai matar um leão (não, leão não, gosta de felinos. Vai descascar um abacaxi por dia). Mas sabe ser necessário. E se sente contente. Como nunca. Só bate, às vezes, aquele medo normal (na verdade, não é medo. É cautela. Aff... Detesta essa palavra, tão covarde... medo soa mais íntegro. Que coisa), biologicamente incrustado nos seres humanos: inconscientemente, colocar na balança as chances de tal ato dar certo e não dar. Mas segue otimista seu caminho, otimismo esse propulsado pelo novo, pelo inesperado, coisa que adora e não vive sem em sua vida. É como um segundo tipo de ar que respira. Só aspirado pelos pulmões da alma. Espera dar certo. Vibra, gosta de mudanças radicais. Sair explorando, descobrindo. Vai precisar muito de sua boca. Pena que não é pra ir a Roma, mas, talvez, pra achar lojinhas, mercados (já pensando no seu novo bairro)... E vai se sentir feliz com isso. Se bastar pra ela mesma. Pega o ônibus e segue. Seu caminho. Meu caminho. Meu jeito.

Trecho da música My Way, famosa na voz de Frank Sinatra, mas composta por Claude François, Jacques Revaux e Paul Anka. Rola uma identificação:

"...Yes there were times, I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all when there was doubt
I ate it up and spit it out

I faced it all and I stood tall
And did it my way

I've loved, I've laughed and cried
I've had my fill, my share of losing
And now as tears subside
I find it all so amusing

To think I did all that
And may I say, not in a shy way
Oh no, oh no, not me
I did it my way

For what is a man, what has he got?
If not himself, then he has naught
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels

The record shows, I took the blows
And did it my way."

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sem paciência

Sobre o post anterior: Não sei como em nome de Jesus fui-me esquecer de comentar sobre  um dos principais livros da minha formação em “Horrologia”: O Exorcista, de Willian Peter Blatty. O conheci também na minha ida adolescência, e é com certeza o livro que mais reli. Meu romance preferido. Minha recomendação, sempre.

*****

http://www1.folha.uol.com.br/poder/811187-d-odilo-scherer-defende-discussao-sobre-aborto-na-campanha.shtml
Após ler o texto deste link, indignei-me (quem me conhece, vê que fico indignada muito frequentemente. É que não tenho mesmo paciência pra estupidez humana. Se bem que estupidez humana é praticamente uma redundância).
Como se não bastasse ter que lidar com os acéfalos argumentadores (eufemismo este último, estou muito boazinha, pois na verdade não passam de pessoas que resolveram abrir a boca pra sair coisas néscias) na cena política, agora temos esse exemplo (mais um dos) da acefalia "formadora de opinião" da Igreja Católica. E, meu Deus, misturar os dois, que inferno na Terra (uso "meu Deus" e "inferno" como meras exclamação e expressão, não necessariamente dando a entender à qual crença a escritora deste texto segue).
Em que Universo, eu vos pergunto, a opinião de candidatos a cargos políticos sobre aborto, sob o viés religioso, deveria ser levado em consideração na hora de escolher tais candidatos? Nesse planetinha chamado Terra, onde a religião, segundos alguns (leia-se muitos), é fator vital. E agora, mais especificamente, no Brasil. Não que eu esteja fazendo apologia do aborto aqui. Mas, sendo mulher e passível de tal acontecimento, compadeço-me das que sofrem por essa escolha e tento me colocar no lugar. Então, acho assunto completamente pessoal, da mulher ou menina em questão.
A Igreja Católica considera criminoso e pecaminoso encerrar a vida de um bebê, mas fogem completamente do que é mais importante: da vida, já existente, da mulher. E também não consideram a possível vida de merda que esse bebê viria a ter. Pensando então, por exemplo, num caso de estupro. Os católicos acham que vai acontecer o que com a alma do estuprador? Ele está liberado ao reino dos céus, mas a garotinha de nove anos que teve a vida arregaçada (desculpem o trocadilho) vai arder no Inferno? Como isso funciona? E não considerando o post mortem, mas o aqui e agora? Como proceder? As mulheres devem seguir carregando o fruto desse crime tão abominavelmente hediondo? Bem, não consigo seguir lá muito imparcial né, já estou dando minha opinião pró.
Um adendo fora do cerne inicial dessa postagem: agora, se não for caso de estupro? Deixando toda e qualquer opinião religiosa de fora (não que eu tenha alguma formada), mas vendo somente com meus valores sobre a vida, acho que depende do caso, e não vou discorrer sobre minhas opiniões pessoais, o texto não é sobre isso (apesar de já ter opinado, não teve jeito). Como disse antes, decisão única e exclusivamente da mulher. E também do pai da criança, seja seu namorado, marido, companheiro ou qualquer coisa que o valha (não excluo, em hipótese alguma, a participação do homem nessa questão). Pra quem quiser saber, o que euzinha, Juliana, faria, sinceramente não sei. Precisaria estar envolta na situação pra saber.
Voltando à política, o Brasil mostra-se despreparado para levá-la a sério. Muito que evoluir ainda, creio eu, humildemente. Agora, misturar isso com religião é confundir demais a cabeça do médio cidadão, do qual é composta a maioria da população (sem querer ser escrota, mas já sendo, é a verdade e todos sabemos. A parte pensante desse país é minoria, e humildemente me incluo nela. Pode parecer paradoxal e irônico esse "humildemente", mas não é).
A Igreja Católica é como os EUA: adora meter o bedelho onde não foi chamada. E fica dando palpites completamente falhos e inúteis. E nesse caso, vejo aqui simplesmente algum conchavo entre políticos e esses arcebispos de merda, pra arrebanhar ou enfiar na cabeça dos já arrebanhados em quem votar. Infelizmente, sei que a maioria da população é sim católica, e como tal, tende a usar esse viés nas suas escolhas na vida. Tá, não só no catolicismo. É  a essência de toda religião ser doutrinadora nos valores, na ética, no rumo da vida em geral das pessoas.
Acredito no Estado Laico. E o Brasil seguiu muito tempo sendo. Mas agora, já não sei... Entristeço-me com essas coisas. Muito barulho por nada, muito foco no que não tem que ser levado em consideração. O que é importante fica só no plano das ideias, não é discutido. Vejo essas coisas como um tipo de "entretenimento", algo pra desfocar do que realmente tem que ser discutido. Religião, de certa forma, é isso aí. E engraçado, é um assunto que me intriga muito. Gosto de estudá-las cientificamente, entender os processos, como se criaram, antropológica e socialmente falando. Mas não consigo ver minha vida inserida em algum tipo de doutrina, acho tudo isso muito castrador da essência humana. Ter um lado espiritual, exercitar a espiritualidade pode até ser necessário, mas realmente, como boa agnóstica, não sei.
Meu radicalismo em relação a pessoas religiosas diminuiu um pouco (era MUITO), não trato ninguém diferente só por ser crente, judeu, hindu ou o raio que o parta (neste último podem-se incluir as religiões pagãs. Se bem que eu as admiro muitíssimo mais). Mas lá no fundo, não consigo ter um relacionamento normal com pessoas muito religiosas. Se bem que das religiões que conheço algo, a que mais respeito é o espiritismo. Até já me considerei espírita por um tempo, mas por não concordar com algumas coisas, achei melhor me “desconsiderar”. Enfim, assunto demasiado complexo pra uma postagem, e essa já está extensa por demais.

P.S.: Um bom texto a ser lido como complementador, esta entrevista com Ciro Gomes; concordo, em algumas partes, com o que ele fala: http://www.outroladodanoticia.com.br/10/2010/ciro-gomes-mistificacao-em-torno-do-aborto-e-calhordice/

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Horrify yourself

Fiz uma visitinha bem agradável ao dentista hoje, com direito a brocas, lixas, agulhas e outros objetos medievais. Uma delícia! Refiz a resina de um dente que quebrei aos meus 9 anos (com o guidão da bicicleta, bicicleta essa que peguei escondido da minha mãe na ocasião. Bem feito pra mim). Ainda faltam também uma meia dúzia de tratamentozinhos, para então, enfim, colocar aparelho! Eu sempre quis colocar, sonho de infância. Não que eu realmente precise, me acho apenas levemente dentucinha. Mas é mais pelo monte de metal na boca, sempre achei lindo (é, é estranho mesmo).

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Lembrei-me de um conto que li semana passada, do meu querido Poe, Berenice. Segue spoilers, então quem quiser ler o conto, não continue.
Não vou contar o conto todo. Berenice é no conto, prima do protagonista, com quem ele se casa. E após o casamento, Berenice outrora mulher cheia de saúde, de vida (em contraposto com o protagonista, doente e monomaníco, como ele próprio se chama), após o casamento começa a definhar. Parto agora para o desenrolar do final do conto, onde o o protagonista (conto em 1a. pessoa) começa a revelar um intenso e maníaco interesse pela arcada dentária de Berenice. E, como a doença progride e a leva à morte, pode-se imaginar o que ocorre no final do conto. Se vocês não conhecem muito a literatura poesca, ou se, realmente dei poucos dados para tal, não adivinharão o que ocorre (bom, eu deduzi, visto meu treinamento em sua literatura). Sim, isso mesmo. Ele, num ato insano, de loucura inconsciente (convenientemente, ou não, ele não se lembra do ocorrido), arranda no canto do quarto (adoro isso).Poe é meu grande amor literário. Desde minha adolescência incipiente, quando minha nobre mãe presenteou-me com um exemplar de Histórias Extraordinárias, coletânea de 13 contos dele, livro que leio e releio desde então. Encontra-se nele Gato Preto, A Queda da Casa de Usher (esses entre meus favoritos), e alguns detetivescos, com Dupin,  precursor do Poirot da Agatha Christie (desculpe Poe, mas essa você perde. Nas histórias policiais, Christie é a senhora, não tem jeito): A Carta Roubada, Os Crimes da Rua Morgue, entre outros. Eu sou suspeita para falar de contos (minha forma literária favorita), já li quase todos dele. Já a coletânea Contos do Grotesco e do Arabesco, que ardentemente procuro, me parece não ter uma única ediçãozinha traduzida para o português. Contento-me lendo seus contos por fora. Das suas outras incursões literárias há os poemas, claro. Apesar de muito famoso por causa deles, não li muitos. Na verdade só conheço O Corvo e Lenore. Não sou muito fã de poemas (tirando Drummond, mas isso é outra história). Falta-me também ler seu único romance, As narrativas de Arthur Gordon Pym. Enfim, ele é o mestre do Horror. Psicológico, ou não. Onírico, ou não. Policial, ou não.
Só pra ilustrar, uma passagem como exemplo da capacidade poesca de nos inserir no seu mundo de horror, de mergulhar nossa mente nos microcosmos por ele criados. De nos dar todo o arsenal para facilmente sentirmos o clima, a tensão, a lugubridade:
"[...] Com o coração pesaroso, ainda que relutante e oprimido pelo medo, dirigi-me para o quarto de dormir da falecida. Era um quarto grande, muito escuro e a cada passo dado naquele sombrio interior defrontava-me com aprestos do enterro. Os cortinados do leito, assim me disse um criado, recobriam o caixão, e neste, sussurrou-me ele, se achava tudo o que restou de Berenice. Teria alguém me perguntado se eu não queria olhar o corpo? Não vi ninguém mexer os lábios, entretanto a pergunta havia sido feita e o eco das sílabas ainda ressoava no quarto. Era impossível recusar e com uma sensação de asfixia avancei vagarosamente na direção do leito. Ergui de leve as negras dobras dos cortinados. Ao largá-las, elas caíram sobre meus ombros e, ocultando-me assim dos vivos, envolveram-me numa estrita comunhão com o cadáver. A atmosfera se impregnara inteiramente do odor da morte. O cheiro peculiar do caixão me fazia mal e cheguei a supor que emanações deletérias já exalavam do corpo. Teria dado mundos para fugir dali – voar para longe da influência perniciosa daquele ambiente mortuário – respirar uma vez mais o ar puro dos céus eternos. [...]"


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Aproveitando o ensejo, farei algumas sugestões desse gênero da literatura, o mais lido por mim nesse pequeno ínterim de vida. Robert Louis Stevenson, autor do famigerado O Médico e o Monstro, e do ótimo mas não tão famoso O Ladrão de Cadáveres; O de lei Frankstein de Mary Shelley (embora do terror, lógico, creio que há muito de filosófico também); Anne Rice, a precursora das histórias de vampiros (pra mim, porque pra muita gente é aquela cujo nome não lembro e que começou com aquela desgraça na vida de quem gosta de vampiros de verdade, a série Crepúsculo), com suas Crônicas Vampirescas: o melhor Entrevista com o Vampiro e o também ótimo Lestat (as outras ainda não li). A Rainha dos Condenados, confesso, parei no meio. Não recomendo, deveras enfadonho; O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde; Agatha Christie, apesar de ser considerada literatura policial, na minha visão, alguns romances dela possuem uma aura de tensão bem semelhantes às criadas nos livros de horror, sem falar das mortes engendradas com requintes de criatividade acima da média. Os melhores dela são sem dúvida os casos de Poirot. Não curto muito quando ele não aparece. Recomendo Cipreste Triste, O Natal de Poirot e claro, o genial O Caso dos Dez Negrinhos (esse último que, junto com Psicose, com certeza inspiraram o maravilhoso filme Identidade). Não posso deixar de citar H.P. Lovecraft, embora eu só conheça contos menores. Não, ainda não li O Chamado de Cthulhu. Ah, forçando um pouco a barra, porque não é essencialmente horror, apesar de poder suscitar algo do tipo (considero com certeza um conto fantástico), tem O Curioso Caso de Benjamin Button, de Fitzgerald, presente no livro Seis Contos da Era do Jazz (nota: preciso comprar). Enfim, eu ainda sou garota, há muito o que ler e conhecer dentro dessa literatura. Dentro da poesia, além dos do Poe, acho ótimo também As Flores do Mal, de Baudelaire. Baudelaire, aliás, foi amigo de Poe (por correspondências), traduzindo muito de sua obra para o francês. Só imagino sentar num Café com esses dois, que coisa maravilhosa e onírica e utópica de se pensar.
Acima, praticamente citei os clássicos, bibliografia básica dos amantes do gênero. Mas, uma boa recomendação é a coletânea feita por Manguel Contos de Horror do Século XIX, pela Companhia das Letras. Boa pra conhecer os melhores contos dos autores menos endeusados do gênero. Particularmente, adorei A Volta do Parafuso* (horror essencialmente psicológico, e um tanto intragável. Mas vale a pena insistir), de Henry James; "A Família do Vurdulak", de Aleksei Konstantinovitch Tolstói (não é o Tolstói de Ana Karenina. Mas é parente dele, acho); O Travesseiro de Penas, de Horácio Quiroga (maravilhoso este); Uma Vendeta, de Guy de Maupassant. Curiosamente, o exemplar de Poe é Os Fatos no Caso do Dr.Weimar, que sim, é muito bom, mas há outros, como Berenice mesmo, muito mais dignos de figurar nessa coletânea. A coletânea é perfeita, mas claro que sempre poderia ser mais extensa. A gafe fica por conta de terem traduzido O Ladrão de Cadáveres (The Body Snatcher) de Stevenson como O Rapa-Carniça. Sofrível.

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Outra literatura, mas essa é muito mais underground e pode gerar certa polêmica, pois muitos podem pensar não ser digna como literatura (pelo menos acho que nunca entraria para o cânone): são os Romances de Clã, baseados nos clãs de vampiros de Vampire, um universo de RPG. Já li sobre Gangrel, mas é meio difícil de achar todos os clãs. Eu particularmente, os considero muito boa literatura, são muito bem escritos. E o legal é que qualquer leigo em Vampire pode ler, não há necessidade de muito conhecimento prévio sobre o assunto.



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Claro que deixei MUITA COISA de fora, mas como disse, ainda sou garotinha. Mas para quem é fã do gênero, há sempre o que buscar. Sempre sedentos de sangue, e mais sangue... rs.


* Nota no final porque dentro de parênteses ia ficar horroroso de grande: adoro a polêmica em torno do título, que em inglês é Tighten The Screw, Give The Screw Another Turn, que literalmente em português traduz-se "apertado o parafuso, dê ao parafuso outra volta". Mas seria uma expressão, que diria: "Colocar pressão em algo que já está em situação aflitiva". A expressão lembra o "thumbscrew", aparelho de tortura medieval em forma de anéis. Outra coisa a dizer, é que com quase 100% de certeza, quem fez aquele filme genial e no top 10 dos meus preferidos, Os Outros, leu esse conto, visto as similaridades.