terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Erro
Dava sua habitual volta pelo shopping, ao sair do trabalho. E, como
sempre, pensava naquilo tudo, no sentido daquilo tudo. Seus fones lhe
davam uma certa segurança de todos aqueles estranhos que perambulavam
por
ali. Pessoas, em sua maioria em grupos, conversando, rindo, passeando,
de forma totalmente frívola. Não pôde evitar de achá-los
completos imbecis. Em seguida se sentiu arrependida e mais compreensiva.
Por que estava amarga? Não era a primeira vez. Bom, esses pensamentos
vêm e vão, não é novidade. "Eles ajudam a sentir o mundo", pensou.
Talvez ela quisesse, no fundo, ser/estar como aquelas criaturas. A
futilidade era bastante atraente, e não raro ela também se entregava a
ela. Era uma válvula de escape. Assim, seus pensamentos não a
pertubariam como usualmente o fazem. Fugir deles era prática comum. O
fazia constantemente, ou com uso de entorpecentes (bom, às vezes era até
pior... Mas só ás vezes) ou se entregava a todo o tipo de bobagens e banalidades. Tinha medo de mergulhar em si mesma. Porém achasse ser de
extrema urgência uma volta à terapia. Ficava em cima do muro. Achava que
poderia ajudar... Mas ajudar em quê? A desenterrar coisas que ela sabia
que existiam, mas que não tinham forma definida, embora o contorno
fosse demasiadamente escuro. Não, não ajudaria. Talvez com o tempo... As
primeiras sessões seriam de um masoquismo cujas nuances de dor ela só
podia ter vaga ideia. No geral, andar, perambular sozinha era algo que
acontecia frequentemente. Por mais que ela estivesse indo a algum lugar,
ou seja, tivesse um fim, ela sentia como que estivesse solta. Sem
objetivo, sem fio condutor... Embora fosse bastante apaziguador. Colocava as ideias no lugar. A
confusão mental em que vivia metida diminuia, um pouco. Que
contraditório. A terapia de andar dava a sensação de não servir para
nada. O andar em si, na verdade. Outras terapias também soavam ser
assim. De todo, nada servia. Só as ocasionais retiradas da realidade.
Não amenizavam, na verdade, já que depois tudo voltava. Ou coisas novas e
igualmente bestiais (mas não menos humanas, por isso) surgiam. Mas serviam para, naquele período, não
pensar. Estava na escada rolante. Pensava no seu emprego. Ficar
trancafiada num escritório, mais de 8 horas por dia, 5 dias na semana,
não era exatamente seu ideal de felicidade. Não detestava o trabalho em
si, mas todo a estrutura inerente a ele. Se pudesse trabalhar em casa... O
que era mais sem sentido era o fato de ser "obrigada" a passar todo esse
tempo com pessoas estranhas, pessoas com quem não tinha afinidade, mais
tempo do que passava com sua família, seus gatos, seus amigos.
Principalmente: mais tempo do que passava sozinha. Ainda andando - não
tão só, afinal os fones já eram quase parte integrante do seu corpo e,
por conseguinte, a música - virou numa esquina no shopping. Deu de cara
com um pai e sua filhinha, uma menina linda... Era bebezinha ainda,
rostinho lindo, toda alegrinha... Continuou andando, passou por eles...
Lembrou do que ia fazer: comprar cigarro. "Minimizar as chances de ter
uma dessas, um dia", pensou.
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