segunda-feira, 5 de setembro de 2011

De pessoa pra Pessoa

"Agir, eis a inteligência verdadeira.
Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for.
O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito.
Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?" ~ Fernando Pessoa

Querido Pessoa, é uma bela ideia. Nos dá muito o que pensar: Se me permite, exporei minhas reflexões:

Nem sempre, é agir. Nem sempre, o êxito tem que exitar. Querer não é poder. Querer é verbo que se encerra em si mesmo. Querer é querer. A ação, muitas vezes, independe. Ou, ao contrário, depende, depende de coisas até de mais. Claro que, agindo, colocando em concordância o querer e o agir, temos uma baita chance de alcançar felicidade, mesmo que seja a felicidade da boa resignação, aquela do "eu tentei". Para alguns. Ou, para todos, mas em alguns momentos. Para outros, e outros momentos, a inércia é a trazedora de, se não felicidade, pelo menos não infelicidade. O gosto amargo que pode haver pelo arrependimento do não feito muitas vezes é mais fácil de digerir do que o insucesso da empresa do desejo. Covardia? Talvez. Mas, então, agir se igualaria a coragem? Coragem seria a "inteligência verdadeira"? Creio que há momentos e momentos, Pessoa. Não sou uma das pessoas mais ponderantes que existe, pelo contrário. Convivo diariamente com o arrependimento do feito e do não feito. E pra um ou outro, dependo antes do ânimo da minha alma (precisei da redundância) de, quase sempre, impulsivamente, fazer tal coisa. E se não faço, também. A ausência de ação é, frequentemente, impulsiva...

E o palácio? O palácio continuará, lindo e deslumbrante, bem erguido no campo da imaginação. Porque nem toda choupana ou casa, nem todo palácio, ou castelo, ou o Valhalla que seja, tem que ser, ou tem como ser, construído na "terra larga" da realidade.

A fim de ilustrar um pouco, cito essa bem providencial sentença do meu querido Drummond: "A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca."

E o ser humano segue...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Parêntesis

Schopenhauer sobre o uso de parênteses: "Se é rude interromper uma pessoa que está falando, não é menos rude interromper a si mesmo."
Caso ele fosse inteirado do cotidiano de uma agência de publicidade, e adindo, caso ele fosse revisor de textos/redator, assustar-se-ia ao saber que parênteses, além do dito, carregam um teor pejorativo, e não por rudeza de interrupção, mas por fazer quaisquer informações perderem seu suprassumo grau de importância. E contrariando o digníssimo, acho parênteses superválidos (não são exatamente uma interrupção, mas um plus de informação ao dito anteriormente... Que, por alguma razão estética ou filosófica ou ideológica, achou-se por bem que fosse dito desse modo, como se ciciando...), mas eu sou suspeita pra dizer, sou viciada em parênteses (que até pelo símbolo, traduz sua função de sussurro, mas não menos importante: cada parêntese não se parece cada uma das mãos, fazendo um arco ao redor da boca, para se falar mais baixinho?) e, sou alguém (no momento), ao contrário do autor da frase, vendo o copo meio cheio... =)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Perguntar ofende?

Em certos casos, pode até não ofender propriamente, mas com certeza causa desconfortos e/ou estragos. É bem curioso o processo... Porque, teoricamente, perguntamos pois não temos a certeza, não sabemos de alguma coisa. Mas a pergunta quase sempre ocasiona, na parte perguntada, um julgamento nem sempre verdadeiro, de que a parte que pergunta já tem um juízo preestabelecido, um “pré-conceito”. Afinal, perguntas são palavras... E toda palavra tem sua carga, potencialmente negativa ou positiva, dependendo de quem a usa, como e quando.
Mas, principalmente, depende do ouvinte. A interpretação pode causar danos irreparáveis nos mais diversos âmbitos da nossa vida.
O mais engraçado é quando uma pessoa faz uma pergunta e a outra responde com outra pergunta, acusando a pessoa de alguma coisa que ela nem sabe direito, porque, afinal, ela está perguntando!
Ou nem responde com outra pergunta, mas com ofensas e coisas das mais absurdas, já entrando em um processo cognitivo louco de interpretação, que na maior parte das vezes foi ocasionado pelo calor do momento, não tendo em nada a ver com a realidade da pessoa que perguntou! Aí, podemos dizer sim, que perguntar ofende... a quem pergunta. rs
E o pior que depois fica difícil restabelecer o statu quo da parte que pergunta perante a parte perguntada, visto que esta já se encontra maculada com a suposta ideia que fez da fonte da pergunta.
E mais: às vezes a pergunta (PODE acabar) acaba fazendo a parte perguntada responder a questões não questionadas pelo inquiridor. Pode ocasionar uma análise profunda da psiquê da parte perguntada... Como um esplêndido ato falho.
Quem pergunta, óbvio, estabeleceu alguma ideia. Mas só parte dela. Se já tivesse a resposta, não teria perguntado. Dã.

O ser humano é digno de aplausos mesmo. Dos mais enfáticos e escandalosos e, claro, sarcásticos.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sobre o amor

Desde que fui apresentada ao filósofo romeno Emil Cioran, ele virou uma espécie de guia para mim. Os livros dele tomam ares de autoajuda. E sei que isso seria visto por ele como uma piada de mau gosto, um paradoxo sem precedentes, caso eu realmente siga os ensinamentos dele. Mas não tem jeito.
Eu comecei a ler avidamente "Silogismos da Amargura" e “Breviário da Decomposição" não tem nem um mês. E depois de um tempo resolvi lê-los com mais parcimônia, em doses homeopáticas, eu diria. Porque não quero que acabe logo (sim, sou dessas).
E posso considerar um marco na minha vida. Ter entrado em contato com ele justo nesse momento. É um daqueles encontros perfeitos, na hora certa, no lugar certo.
E bem, faltando dois dias para o Dia dos Namorados, é aquele clima no ar, as pessoas só falam disso, e blá blá. E não sou hipócrita, faço piada e tudo o mais, mas a verdade é que eu gosto de namorar. Passei muito tempo namorando, e sei que é bom, apesar de todos os reveses. E por que raios então não estou namorando? Não estou exatamente porque não quero. Contraditório? Talvez. Sou complicada quanto a isso? Sim. Não vou me alongar nisso pois não vem ao caso. Não foi isso que vim falar aqui, reclamar que a minha complexidade me impede de ter relações "normais" nem chorar minhas lamúrias pessoais.
Eu sempre tive a minha visão do que é o amor, que julgo meio complicada, e se eu começasse a falar dela aqui não haveria espaço (aliás, qualquer coisa que eu me proponho a falar sobre é essa bíblia... Sim, adoro me explicar. Adoro explicar tudo. Adoro tentar. Mesmo no fundo sabendo ser completamente improfícuo. Digamos que considero um bom exercício, o exercício da lógica, da escrita, em suma: o exercício intelectual em geral. Pensar é a causa cujas consequências são as mais inconsequentes, se isso é possível. Mas creio que gera um bom passatempo, até a chegada da fatídica hora).
Vou então apresentar um dos trechos com os quais mais me identifiquei em "Breviário da Decomposição".
Acho engraçado essa coisa de identificação com um texto, porque a ideia nasceu com você, esteve o tempo todo aí dentro, aí foi preciso alguém que, com a fórmula exata, a expusesse e que em algum momento você entrasse em contato com ela, pra finalmente dizer a você mesmo: é exatamente o que penso sobre isso! E é isso que vem acontecendo entre mim e as ideias de Cioran. Não sou xiita, admito que tem coisas dele que não me inflamam. Mas a grande maioria de seus escritos moram aqui ó (aponta pro coração e pro cérebro. Que perfeito.)
Neste trecho em que ele começa a falar das mentiras que os homens criam, e que viram mitos creditados pelo homem (por exemplo, religião), acaba falando do amor. Pra mim, o amor não se resume a isso, mas isso que ele escreve ajuda a compor com louvor o que penso (sempre pensei, mas não dei forma tão eficaz) sobre o sentimento em questão.

Sem mais delongas, segue o trecho do capítulo "A mentira imanente".


"...Nem todos os homens podem ter êxito: a fecundidade de suas mentiras varia... Tal engano triunfa: disso resulta uma religião, uma doutrina ou um mito – e uma multidão de fiéis; outro fracassa: não passa então de uma divagação, de uma teoria ou de uma ficção. Só as coisas inertes não acrescentam nada ao que são: uma pedra não mente: não interessa a ninguém – enquanto que a vida inventa sem cessar: a vida é o romance da matéria.
Pó apaixonado por fantasmas tal é o homem: sua imagem absoluta, idealmente semelhante, encarnar-se-ia em um Dom Quixote visto por Ésquilo...
(Se na hierarquia das mentiras ávida ocupa o primeiro lugar, o amor lhe sucede imediatamente, mentira na mentira. Expressão de nossa posição híbrida, cerca-se de um aparato de beatitudes e de tormentos graças ao qual encontramos em outro um substituto de nós mesmos. Por qual embuste dois olhos nos apartam de nossa solidão? Há fracasso mais humilhante para o espírito? O amor adormece o conhecimento; o conhecimento desperto mata o amor. A irrealidade não pode triunfar indefinidamente, nem mesmo disfarçada com a aparência da mais estimulante mentira. E, de resto, quem teria uma ilusão tão firme para encontrar no outro o que buscou em vão em si mesmo? Um calor nas entranhas nos trará o que o universo inteiro não soube oferecer-nos? E, no entanto, esse é o fundamento desta anomalia corrente e sobrenatural: resolver a dois – ou antes, suspender – todos os enigmas; graças a uma impostura. Esquecer esta ficção em que está mergulhada a vida: com uma dupla carícia preencher a vacuidade geral: e – paródia do êxtase – afogar-se, finalmente, no suor de um cúmplice qualquer...)."

terça-feira, 7 de junho de 2011

Pavlov e Schrödinger, seus lindos

Vindo eu para o trabalho hoje, com aquele sono gostoso e torturante (por não poder de fato deitar e morrer dormir), pensando mais uma vez em relacionar duas teorias científicas (uma behaviorista e uma do campo da física). E digo ‘pensando mais uma vez’ porque tenho o costume de aproveitar minhas viagens infinitas de ida e volta ao trabalho para ouvir música, ler livros e pensar toda a sorte de absurdos e nonsenses.
(Conclui-se então que teorias científicas são absurdos e nonsenses... Mas isso é outra história.)
Então exatamente hoje, achei por bem voltar a essa reflexão. Mas primeiro direi como me ocorreu a ideia, uns dias atrás: estava eu pensando nos animais, nas ciências, em física, em sociologia, em psicologia e disse isso tudo na verdade porque não consigo definir exatamente o que estava eu pensando, mas acho que um pouco de tudo, ou na verdade, tudo junto e misturado, não sendo possível desamalgamar e por conseguinte definir coisa alguma.
E lembrei das duas teorias científicas cujos criadores utilizaram animais para justificar-se:
os cães de Pavlov e o gato de Schrödinger. Como relacioná-las? Na verdade, por que eu pensei em relacioná-las? Não sei. Mas boa ariana com ascendente em touro que sou, não desisto fácil das coisas, quando efetivamente estimulada.
E hoje me veio a epifania. Existem fatos em nossas vidas, o tempo todo, relacionando as duas teorias, e assim, corroborando-as! E o que é melhor, é tudo incrivelmente nonsense!
Partindo então do princípio que meus ausentes leitores saibam do que se trata as ditas teorias, desenrolarei então os exemplos muitos que pensei, explicando:
Um: quando estamos ouvindo música. E ouvimos certos sons na música que cremos ser do nosso celular tocando, ou de alheios, ou buzinas, ou a campainha. Por uma fração de segundos, a realidade para nós é de que realmente se trata de outro som, e essa sensação nos causa extrema estranheza (particularmente eu gosto). Então, por uma fração de segundos, mesmo que a gente não se dê conta (nós realmente não nos damos) o som é um gato de Schrödinger. Pode ser tanto uma coisa quanto outra. E realmente pode! Porque quando voltamos do estado dito naqueles segundos (ou fração de), em que acreditamos ser o som externo, na verdade ficamos na dúvida. E tiramos o fone, ou abaixamos o som para ouvir. E aí sim, comprovamos externamente o que é o som que ouvimos (então tem uma certa adaptação da teoria aí: como pode ser inúmeras coisas, não há simplesmente 50% de chance, as porcentagens diminuem. E aí começamos a mexer com probabilidade, melhor deixar quieto). Agora: por que fazemos isso? Por que acreditamos ser outro som que ouvimos, além da música? Porque vivemos num mundo em que nos condicionamos a isso. Pessoas existem, logo carros, e buzinas, e celulares. E campainhas. Então achamos, claro, que esse som estranho vem de algum ponto do nosso mundo. Porque vivemos nele e já assimilamos os sons possíveis e tal.
Outro exemplo: quando vamos pegar uma garrafa de água: nossa experiência de mundo nos ensinou que garrafas ou qualquer recipiente, quando cheio, pesa. E, por acreditarmos que certa garrafa ou recipiente se encontra cheio, o pegamos com a dose certa de força. E aí entra o gato: ela pode (ou não) estar cheia! Ao mesmo tempo ela está cheia e vazia (e não nos damos conta disso... É, isso talvez seja um pequeno lapso dessa minha tese: na experiência do gato, obviamente Schrödinger sabia das chances, ele próprio as fez... Mas o fato de não sabermos disso, ou seja, de ser inconsciente, como quero crer, talvez não omita a beleza da coisa). Desprendemos mais força que o necessário para levantar a garrafa vazia... Aí acontece aquela sensação que dura (fração de) segundos, em que nossa realidade foi violentamente frustrada.
Outro: quando estamos num quarto que nos é familiar, no escuro. Sabemos onde as coisas estão posicionadas... Por aí vai.
Outro: quando vemos alguém na rua e JURAMOS que é alguém que conhecemos. Aí quando vamos ver, não é... Ou é...
Outro: quando vamos comer um bolo, por exemplo, visualmente IDÊNTICO ao de cenoura com cobertura de chocolate (e mais, adido o fato de que alguém nos disse ser de cenoura com cobertura de chocolate). Quando mordemos, e na verdade é salgado, de abóbora e com cobertura de feijão (tá ninguém, faria isso... Ou sim, eu gosto de crer que sim)...
E por aí vai, tudo ao nosso redor está arranjado, iludindo a torto e a direito nossos cinco sentidos.
(Acho essas experiências que descrevi acima dopantes da nossa realidade por demais... E assim, distorcedoras... Como drogas induzidas inconscientemente.)

E tudo isso rende uma boa metáfora: somos todos cães rodeados por gatos...
Quem disse que ciência e poesia não podem se inspirar?

domingo, 29 de maio de 2011

Deixemos as distinções de gêneros apenas para a língua (com trocadilho, por favor)

Situação que parou meu dia de hoje: ver meu gato mais novo (Edgar) sugando as mamas involuídas do Thomas (meu gato mais velho, castrado).
O que suscitou inúmeras questões:
Num primeiro momento: os dois são machos, como que acham concebível isso? Quero dizer, concebível sair leite, alguma coisa que fosse do Thomas? Porque animais têm o instinto, sentem essas coisas mais argutamente que nós, já praticamente insensíveis graças ao nosso modus vivendi atual. Creio que, apesar de castrado, o Thomas ainda libere cheiros, indicativos de ser do sexo masculino, logo opostos dos liberados pela mãezinha do Edgar, que antes de mãe, é fêmea. E claro que saberíamos (e digo qualquer animal), apenas pelo cheiro, identificar nossa mãe no meio de todas as outras mães do mundo.
Bom, então: o Edgar falhou nisso. Ou então as coisas são mais complicadas do que penso, leiga no assunto que sou. Os animais não conseguem fazer essa distinção, ou o Thomas sendo castrado, não solta cheiro nem indicativo de nada, sendo um ser "curinga", na visão do Edgar, que, sentindo falta de sugar sua mãe, achou por conveniente o fazer no Thomas. E este, nunca tendo sido sugado nas suas mamas por nenhum ser nessa vida, acho eu que não soube o que acontecia...
Aí, entra a questão cheque: ele, Thomas, estava gostando! Fechava os olhinhos, depois até virou a barriguinha pra cima, ficou com as patinha pra cima... Coisa mais fofa.
Mas voltando: o que foi tudo isso, então?
Pra mim, só há uma resposta: vontade.
Edgar e Thomas se viram numa situação prazerosa (e nem digo com uma conotoação estritamente sexual, visto que muitas mulheres dizem ser prazeroso o ato de amamentar, não tendo nada de sexual... Ou até teria, mas há algo bem complicado nisso aí, Freud explica.)
E se foi sexual? não dá pra saber. Não sei que tipo de sensações rolaram ali. E eu já tinha lido sobre casos de homossexualismo no reino animal, a maior prova de que realmente não existe gêneros.
Quando digo gêneros aqui, é associando intimamente ao sexo. Talvez até errôneo da minha parte, visto, por exemplo, a diferenciação entre gênero e sexo gramaticalmente falando, que já é confusa... Essa necessidade que temos (digo temos, pois sigo o fluxo, porque pra mim não tem muita serventia) de separar tudo bonitinho, tudo tem que ficar no seu devido lugar...
Mas estou me explicando anteriormente.
Vejamos: o masculino e o feminino. Há os dois, mas apenas fisiologicamente falando. Um ser nasce com um aparato genital dito "feminino" e outro ser com o aparato "masculino". Depois que nasce, o serzinho é bombardeado por todos os lados que deve agir de tal jeito, gostar de tal coisas e olhar em tais direções. É assim que se forma um ser civilizado.
Pra quando o ser crescer (?), se achar numa situação embaraçosa e infeliz, ao ver que sente atração por tudo aquilo que lhe foi dito pra não sentir! E digo embaraçosa e infeliz não havendo intromissão religiosa, porque aí torna-se tormento inenarrável na vida de uma pessoa.
O gênero feminino e masculino então, cai por terra! Porque aí a mulher, que tem todo o aparato para ser a progenitora, fazer o que uma mulher foi feita pra fazer, não fará (teoricamente, não estou contando aqui com inseminações artificiais)! E aí? Que confusão! Continua sendo mulher ou não? Ela foi? O que ela é? E vice-versa? Com o dito homem?
Francamente, hoje em dia digo (acho) que, baseada em reflexões próprias, e em experiências também, que a complexidade do ser humano é tamanha que ninguém deveria questionar esse assunto. Ninguém deveria fazer essas castrações emocionais e psicológicas com seus filhos, para serem pessoas fadadas ao insucesso e à infelicidade (afetivamente falando). Deixar, abandonar o ser a suas próprias conclusões, acho que é o único abandono proficiente.
(Pausa para comentário linguístico: tudo é questão de ponto de vista, o bem, o mal... A carga negativa ou positiva com que enchemos as palavras... os supostos significados intrínsecos das palavras é uma pobreza verbal sem fim. Mas voltando ao assunto principal...)
O que eu gosto, o que eu quero pra minha vida, depende de mim, somente de mim! Abaixo à religião, à intrasigência paterna, aos supostos "formadores de opinião e personalidade"!!
Ovacionemos o individualismo! Glorificado seja!(Escolho muito bem as palavras, não? Ironia é pouco.)
Educar sim, mas moldar essa educação ao seu bel-prazer, não! Restringir, não! Nunca serei capaz de acreditar que o que é bom pra mim o será para qualquer pessoa, ainda mais para um filho meu, a quem supostamente só irei querer o bem!
Viva a vontade. Só isso. A vontade, o que eu quero fazer, é o que me torna senhor de mim. E perder essa senhoria, é uma lástima. É decompor o ser humano, e talvez a mais nocivas das decomposições. A liberdade, de ter minhas próprias experiências, de aos poucos ver o que é ou não melhor pra mim... Nenhum pai, nenhuma mãe, nenhuma pessoa que seja tem esse direito! De usurpar a liberdade!
Acho que posso resumir tudo ao maior conselho que poderia dar a alguém (caso alguém queira um): não faça a ninguém o que não gostaria que fosse feito a você. Sigo, desde nem me lembro quando, essa máxima. Acho que único príncipio do meu rol de princípios éticos ao qual não me dou ao luxo de desrespeitar.
A última análise que faço de alguém (digo última, ou inexistente), é sobre sua sexualidade. Até porque creio ser esse campo muito profundo e obscuro, e como disse, não devendo nem ser falado sobre. Não por ser um tabu, de forma alguma. Mas porque não nos leva a lugar nenhum, complexo por demais. (Rá, se assim fosse, não deveríamos discutir nada, porque tudo é complexo nesse mundo. Até 2+2 nem sempre é = 4... Pra se ter uma ideia. Mas enfim...)
E sei também, por experiência própria, que até a nós mesmos é difícil assumir certas coisas. Visto a sociedade em que somos criados, em que vivemos... Ainda resta um ranço, e nem digo exatamente de preconceito... Mas há alguma coisa que nos impede (no meu caso, não mais) de sermos completamente honestos conosco, num diálogo interno, há partes que se calam, que mentem... Eu passei (e ainda passo) por inúmeras sessões comigo mesma, que tem me feito ser sincera e mais feliz comigo mesma. E volto a falar, deixar as amarras da religião, ou de qualquer dogma dela que seja, ou de qualquer coisa que se equipare a ela, é um avanço na melhoria do ser humano sem precedentes. Sobre isso tenho certeza.
Termino dizendo que sinto um enorme prazer e até orgulho por não ter mente obtusa (seria uma forma de altruísmo isso?) ao ver dois serezinhos sendo felizes sem bloqueios de nenhum tipo...
Fazendo o que dá na telha, sem ninguém pra olhar torto, pra dar sermão, pra dizer qualquer merda arrotando superioridade.
Termino (agora sim!) com um célebre trecho, que é o mais verdadeiro: "faz o que tu queres, pois é tudo da lei..."

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Já estamos mortos para o mundo

Entendo os suicidas. A morte vai chegar, pra que adiar? Podemos sim, ainda ter muitas alegrias, como tivemos. Podemos vir a ser algo de bom para o mundo (haha), para nós mesmos. Mas no geral, é apenas luta. Sofrimento. Cansaço. Eu os entendo, o que não quer dizer que tenha vontade de fazer. Aliás, vontade sim. Mas não determinação. Coragem.
Qual diferença fará a nós, após a morte, o que tivemos de bom? Sim, minha mente está se povoando de ideias ateias. Não sei mais. Acho que no final, nada disso daqui vai importar. É tudo muito errado, muito sem sentido. Não pode (sinto cada vez mais não) ter nada além. Então, se eu tiver uma vida imensamente maravilhosa, cheia de amor, riquezas, conquistas. No final, só nos serve nessa (na?) existência. Nesse punctum temporis. Tentando pensar no depois, no além: nada. NADA.
Que seja perene enquanto dure...
Que diferença faz, se eu morrer agora, ou daqui a 10 anos, ou 20, ou 50? Faz diferença no aqui. Mas não importa. Ser feliz AQUI, miserável AQUI. E no final, curioso, (a contrapartida agora, ela sempre vem) importa tudo. Porque estou sentindo, estou vivendo. O que tudo vai acabar um dia. Então, dá vontade de viver, sim, mas com o dedo apertando o foda-se.
Ah, mas o espiritual... Não, não posso ainda me considerar totalmente avessa à ideia do sobrenatural. Admito. Muitos dizem que agnósticos são ateus sem coragem de “sair do armário”. Pois que seja então. I don’t fucking care.
Sigo nessa luta interna...
E acho que não consegui transmitir o real pensamento disso tudo. A merda da “limitroficidade” da língua. Não do meu pensamento. Talvez da minha capacidade de transmiti-lo.
Ah, o título: explica-lo-ei melhor:
De antemão, antes mesmo de nosso corpo parar de funcionar, antes da morte fisiológica, da literal. Já estamos MORTOS. E por que? Porque VAI acontecer. É fato. A única certeza que temos. A cada respirada, a cada piscar de olhos, a cada segundo, morremos mais um pouco. Isso considerando o natural. Porque pode pairar sobre nossas cabeças uma morte extremamente agressiva. Um acidente. Daqueles cheios de sangue e tripas. E aí, acabou. De qualquer jeito, não importa. E, mais ainda: para todos que nos cercam, conhecidos ou não. Depois que nos formos, não fará diferença.
(Talvez unicamente para nossas mães. Para elas, sempre estaremos vivos. Sei por vivenciar a realidade da minha avó, após a morte por câncer de intestino do meu tio. Mas isso é outra história.)
Negócio que me parece que tudo é virtual. A existência é virtual. O real mesmo, o verdadeiro, somente a morte. Ela já existe dentro de nós. Só esperando sair. Ou fora, nos rondando. Em cima de nós. Só esperando entrar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O gato

"O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba receber.”

“O gato nos ensina a espreguiçar com a massagem mais completa. Em todos os músculos, preparando-se para a ação imediata. O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo.”

“O gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Um gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano, mas se comporta como um lorde inglês.”

“O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção.”

Artur da Távola

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A grande incongruência

Fato que ocorreu comigo hoje:
Estava indo ao mercado, muito pensativa na vida (coisa que tenho feito constante e ultimamente). Pensando em como nada faz sentido nessa vida. Tudo é uma grande incongruência. Na verdade, tenho uma teoria: esse mundo é feito de pequenas incongruências, tudo são fatos sem sentido nenhum pra mim. Só uma sucessão de nonsenses... E juntando tudo, dá, o que nomeio, uma grande incongruência.
Enfim, fui ao mercado. Então, na hora de pagar, cheguei numa caixa vazia, ela estava absorta em algum pensamento. Achei curioso. Cheguei e perguntei: está aberto? Ao que ela respondeu: não... brincadeira, tá sim. E foi tão jogral, tão cômica, que rimos uma olhando pra outra. Foi um acontecimento muito nonsense. Parei e respondi, sem pensar e ao mesmo tempo pensando, e falando: muito engraçadinha você. Ela me pareceu surpresa com minha afirmação. Rimos e passei as compras. Depois ela me deu o cartão e riu, falando tchau. Durante a passagem das compras, cogitei: tá aí uma pessoa que eu chamaria pra sair. Rolou empatia, dessas que ocorrem corriqueiramente, com desconhecidos. Se eu estivesse bêbada, provavelmente a teria chamado pra sair. hehe
Porque a bebida só joga pra fora a verdade. O que sentimos mas não temos coragem de falar e fazer. Fato. É aquela frase: a bebida entra, a verdade sai.
O negócio é que isso me fez pensar mais ainda. Como que pode esse tipo de coisa acontecer? Num pequeníssimo momento tudo fez sentido. Aquele momento foi de total sentido. Mas, logo que saí do mercado, passou a ser absurdo. E ainda o é.
Tudo ainda é. E tenho uma nova teoria: a vida é feita de pequenos momentos, como esse, pra nos fazer ruminar e pensar que vale a pena viver. Pra viver coisas assim.
Foi divertido.
Poderia terminar isso dizendo algo altamente filosófico, mas, sendo minha própria filósofa, (não ligo muito pra o que os Nietzsches da vida falam, pois sou capaz de achar minha própria filosofia e sou satisfeita assim) guardo pra mim. Nem poderia explicitar com palavras, não sou muito boa com isso mesmo.
Então é isso. A vida é um grande parque. Pra mim, obviously.
O que mais me faz feliz, faz essa vida ser um grande parque, divertido e alegre? A música. Mas isso é assunto pra outro post. (Vivo adiando falar sobre música, porque temo não ser capaz de fazer jus a verdadeira musa inspiradora que ela é).
Paro por aqui.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Blá blá blá antropológico e conselhos femininos

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI218479-15230,00-QUANDO+AS+MULHERES+DIZEM+NAO.html

Antes de comentar sobre esse texto do link propriamente, tecerei poucas, parcas e rasas considerações:
Espero não soar prepotentemente superior, ou escrota.
Não vou atacar os homens, pois gosto muito deles e os admiro com todas as características, negativas e positivas inerentes ao sexo, e digo isso, claro, do meu ponto de vista feminino (pois é o único que conheço, rs).
E que também fique claro, não estou me colocando a favor deles, assim como não me coloco a favor das mulheres. Baseio-me não tão somente nos estudos científicos comportamentais divisores de gênero, com os quais concordo (em tese) mas, principalmente, na minha experiência enquanto ser social e observadora das relações entre homens e mulheres, homens e homens e mulheres e mulheres. Sei (sabemos, creio) que existe sim certo padrão comportamental. E pretendo levar o texto e a vida, apenas explicitando, observando as características, sem julgar nenhum “lado”. Até porque não acho que existam culpados. Talvez uma culpa histórica, mas isso é outra história, vai ficar gigante esse texto se eu começar a falar da Roma antiga, do pater famílias... etc.

Prescinde-se de evolução. Pode ser evolução cultural, quando vejo culturas mais desenvolvidas, livres de quaisquer preconceitos de gênero; ou educacional, quando a criança é criada num âmbito familiar onde a diferenciação sexual impera; ou psicológica, onde haja uma misoginia (ou ódio aos homens, não existe palavra para a ideia no dicionário. Nem me surpreendi. Ah, ódio às crianças existe: misopedia. Agora, misoandria, que seria o nome certo, não há. Mas continuando...) desenvolvida pela pessoa, sem explicação na influência do meio; ou emocional, também amparada pelo seio familiar, tal qual a educacional. Enfim, cada caso é um caso, não tem como precisar. O fato é que muitos (e muitas) sofrem de algum tipo de “freio” que dificulta suas relações...
Sei que não sou e estou longe de ser perfeita e totalmente evoluída. Quem sou eu pra vir aqui falar esse monte? Quem ler esse texto vai pensar que sou a mulher perfeita. A verdade é que sei que a teoria é linda e maravilhosa, mas sou humana, o que me faz ter sentimentos, e que na prática, muitas vezes (muitas, rs), faz tudo isso ir por água abaixo. Mas admito que pelo menos refletir eu faço.
E observem, disse isso tudo sem tombar mais pro lado da mulher, ou do homem. Todos somos culpados nas nossas relações, e muitas vezes a mulher que, aos prantos, acusa um homem de insensível, filho da puta e machista, é até mais machista que o próprio cara.

Agora, um bate-papo amigo, sobre o texto do Ivan Martins:

Realmente, tudo isso é lindo, mas só é válido para homens maduros (emocional e psicologicamente falando).
Ser honesta consigo mesma (coisa que sou totalmente a favor), já mostrar naturalmente o interesse (físico), pode fazer com que alguns seres do sexo masculino nos tachem de “fáceis” ou coisa pior, acabando por se mostrarem imensamente babacas e imaturos, não dando cabo da relação incipiente com a consideração e eficiência necessárias.
Acho que os homens não precisam ser fofinhos e comiserados, mas sim diretos, “colocando as cartas na mesa”. Sinceros. Sem enrolação, sem mimimi. E, por favor, com o mínimo de educação né.
É tão simples...
Bom, talvez eu ache simples porque ajo assim, faz parte do meu “código de conduta”. Não vejo nem entendo ter diferenciações no jeito em que o homem deve lidar com a mulher, ou vice-versa. Respeito e consideração devem ser usados o tempo todo, independente da relação.
Nem todos (e todas) tem o pensamento direcionado dessa forma...
Mas vale a pena refletir.

Eu dando dicas de relacionamento, vê se pode. Fim dos tempos mesmo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

My Heart - мое сердце - Mit Hjerte - Mio Cuore - Meu Coração

"Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:

Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.

Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.

Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.

Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.

Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.

Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.

Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.

Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.

Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.

Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.

Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.

Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.

Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.

Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.

Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!

Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também. Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.

Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração é teu"


Caio F. Abreu

Reflexões profundas, num momento profundo:

Toda vez que alguém se apaixona um novo clichê não é formado? não somos todos humanos? O que sinto também é passível pra você. logo, você se identificaria com meu (novo) clichê...

Estrofe 5: acho que EU não preciso explicar (ou melhor, mostrar minha IDentificação com) a analogia com a música. (Não nesse post.)


Cada parte, em que começa meu coração (literal e não-literalmente), sente-se uma nova cor vigorar, um novo sentimento construído (descrito, tentativa válida, pelo menos), e todos, todos humanos.
Eu sei que sinto o mesmo que você sentiu, ou que ainda vai sentir.

Então...

Talvez hajam ainda mais maneiras de se sentir... Porque o sentimento humano (nosso, lembra?) é sempre imprevisível... Ou previsível, pressentindo-nos dele... Empatia. Coisa pressentida.


O fato é que sentir... é isso. Isso nos faz vivos. Único sentido. Sensações. Minha religião.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sentir: verbo mais babaca.

Hoje acordei, após um sonho conturbado (provável fruto de um fim de semana orgiástico, mentalmente falando: reflexões profundas, mais do que achei que seria capaz).
Não vou contar o sonho, pois não concerne. O fato é que agora estou sentindo algo parecido com cólera. Ira.
Isso porque hoje de manhã, fazendo o café, consegui finalmente chorar. Talvez outro fruto desagradável do fim de semana, e por conseguinte, do sonho. Desagradável? Sim. Na hora, foi um alívio inenarrável. Mas ao mesmo tempo ruim. Como agora está sendo. E como tem sido, há alguns dias. Não, não quero entrar no cerne do motivo principal. Porque há um principal, e outros sequentes, como uma árvore genealógica emocional. Ou uma bola de neve, se prefere referências lineares.
(Me dou conta que ninguém vai entender nada disso aqui. Enfim. Escrevo mais por uma necessidade do meu âmago do que para deleites alheios. Só publico pra ter o registro.)

A questão, a que tudo se resumiu no dia de hoje, é:
Por que razão infernal e absurda (aquilo que não pode se ouvido) seres humanos temos sentimentos?
Qual o propósito? O porquê?????????????????????????
Não, não ajuda na sobrevivência. Não há justificativa evolutiva.
É uma merda. Só isso. Só. Isso.
Temos a racionalidade. Temos os sentimentos. O primeiro sim, teria um porquê. Nascemos desprovidos de carapaças, asas, chifres. Somos, anatomicamente, um fracasso para o fim da sobrevivência. Mas temos raciocínio.
E os sentimentos? Pra que sentimos? Amor?
Alegria? Tristeza?
Os sentimentos bons (sei que isso depende do ponto de vista, mas considero aquilo que é bom de sentir, que é prazeroso), até alguns estudiosos da medicina poderiam dizer: "ah, o estado de amor (ou felicidade, alegria, whatever) relaxa, libera hormônios, diminui o estresse e blá blá."
Mas, e o contrário? Quando passamos a sentir o contrário? Ou pior, quando somos obrigados a sentir o contrário?
Ajuda em quê, pergunto aos médicos?
Porra nenhuma.
Só há retrocessos.
Pode ser útil no amadurecimento, na evolução da psiquê.
Mas, sinceramente... A dor que causa não vale a pena.
No final, seremos criaturas hiper maduras (oh, que lindo!), mas cheias de cicatrizes. E pra quê? Se fosse pra ajudar em outras relações... Mas e as pessoas que passam a vida inteirinha pa aprender "certas lições"? Morre, e aí? Só sofreu.
(Também não vou entrar em nenhum embate religioso aqui. Já basta o que sinto, peloamordedeus.)

Normalmente, acho aquela máxima "melhor sentir um dia e perder do que nunca sentir" verdadeira.
Mas hoje... Acho melhor não sentir nada. Nunca. Porque o que vem depois... E depois... Às vezes, passam-se meses, anos... E a coisa não melhora. Toma proporções de tal profundidade que nunca achei possível.
Proporções requintadas.
Agora, sou mais partidária da frase: "o tempo não cura nada. O tempo só tira o incurável do foco de atenção."
Pois é. E vira e mexe, ele volta, apoteótico. Querendo toda a atenção pra ele. Uma plateia. Palmas.
Mas não. Não posso deixar, não posso. Algo tem que ser feito. Ele (o incurável), tem que sumir. Ou melhor, ser sumido. Alguém precisa sequestrá-lo pra mim. Dar um chá de sumiço nele. Não pode entrar no palco. Quer dizer, não pode ter outras apresentações. A prévia já deu. Já foi suficiente pra mim.
E que alguém será esse, a raptar e matar o incurável?

Estou no aguardo. Sim, sou fraca. Melhor, estou fraca. Sozinha não dou conta.
Passivamente me encontro.
É como me sinto hoje. Na expectativa de um novo espetáculo.

~.~.~.~.~.~.~.~

É, terminando... Vejo que ainda tenho esperanças. rs
Meu caso não é de todo mal.

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Não curto me expor tanto assim. Mas fez-se de extrema urgência hoje.