domingo, 29 de maio de 2011

Deixemos as distinções de gêneros apenas para a língua (com trocadilho, por favor)

Situação que parou meu dia de hoje: ver meu gato mais novo (Edgar) sugando as mamas involuídas do Thomas (meu gato mais velho, castrado).
O que suscitou inúmeras questões:
Num primeiro momento: os dois são machos, como que acham concebível isso? Quero dizer, concebível sair leite, alguma coisa que fosse do Thomas? Porque animais têm o instinto, sentem essas coisas mais argutamente que nós, já praticamente insensíveis graças ao nosso modus vivendi atual. Creio que, apesar de castrado, o Thomas ainda libere cheiros, indicativos de ser do sexo masculino, logo opostos dos liberados pela mãezinha do Edgar, que antes de mãe, é fêmea. E claro que saberíamos (e digo qualquer animal), apenas pelo cheiro, identificar nossa mãe no meio de todas as outras mães do mundo.
Bom, então: o Edgar falhou nisso. Ou então as coisas são mais complicadas do que penso, leiga no assunto que sou. Os animais não conseguem fazer essa distinção, ou o Thomas sendo castrado, não solta cheiro nem indicativo de nada, sendo um ser "curinga", na visão do Edgar, que, sentindo falta de sugar sua mãe, achou por conveniente o fazer no Thomas. E este, nunca tendo sido sugado nas suas mamas por nenhum ser nessa vida, acho eu que não soube o que acontecia...
Aí, entra a questão cheque: ele, Thomas, estava gostando! Fechava os olhinhos, depois até virou a barriguinha pra cima, ficou com as patinha pra cima... Coisa mais fofa.
Mas voltando: o que foi tudo isso, então?
Pra mim, só há uma resposta: vontade.
Edgar e Thomas se viram numa situação prazerosa (e nem digo com uma conotoação estritamente sexual, visto que muitas mulheres dizem ser prazeroso o ato de amamentar, não tendo nada de sexual... Ou até teria, mas há algo bem complicado nisso aí, Freud explica.)
E se foi sexual? não dá pra saber. Não sei que tipo de sensações rolaram ali. E eu já tinha lido sobre casos de homossexualismo no reino animal, a maior prova de que realmente não existe gêneros.
Quando digo gêneros aqui, é associando intimamente ao sexo. Talvez até errôneo da minha parte, visto, por exemplo, a diferenciação entre gênero e sexo gramaticalmente falando, que já é confusa... Essa necessidade que temos (digo temos, pois sigo o fluxo, porque pra mim não tem muita serventia) de separar tudo bonitinho, tudo tem que ficar no seu devido lugar...
Mas estou me explicando anteriormente.
Vejamos: o masculino e o feminino. Há os dois, mas apenas fisiologicamente falando. Um ser nasce com um aparato genital dito "feminino" e outro ser com o aparato "masculino". Depois que nasce, o serzinho é bombardeado por todos os lados que deve agir de tal jeito, gostar de tal coisas e olhar em tais direções. É assim que se forma um ser civilizado.
Pra quando o ser crescer (?), se achar numa situação embaraçosa e infeliz, ao ver que sente atração por tudo aquilo que lhe foi dito pra não sentir! E digo embaraçosa e infeliz não havendo intromissão religiosa, porque aí torna-se tormento inenarrável na vida de uma pessoa.
O gênero feminino e masculino então, cai por terra! Porque aí a mulher, que tem todo o aparato para ser a progenitora, fazer o que uma mulher foi feita pra fazer, não fará (teoricamente, não estou contando aqui com inseminações artificiais)! E aí? Que confusão! Continua sendo mulher ou não? Ela foi? O que ela é? E vice-versa? Com o dito homem?
Francamente, hoje em dia digo (acho) que, baseada em reflexões próprias, e em experiências também, que a complexidade do ser humano é tamanha que ninguém deveria questionar esse assunto. Ninguém deveria fazer essas castrações emocionais e psicológicas com seus filhos, para serem pessoas fadadas ao insucesso e à infelicidade (afetivamente falando). Deixar, abandonar o ser a suas próprias conclusões, acho que é o único abandono proficiente.
(Pausa para comentário linguístico: tudo é questão de ponto de vista, o bem, o mal... A carga negativa ou positiva com que enchemos as palavras... os supostos significados intrínsecos das palavras é uma pobreza verbal sem fim. Mas voltando ao assunto principal...)
O que eu gosto, o que eu quero pra minha vida, depende de mim, somente de mim! Abaixo à religião, à intrasigência paterna, aos supostos "formadores de opinião e personalidade"!!
Ovacionemos o individualismo! Glorificado seja!(Escolho muito bem as palavras, não? Ironia é pouco.)
Educar sim, mas moldar essa educação ao seu bel-prazer, não! Restringir, não! Nunca serei capaz de acreditar que o que é bom pra mim o será para qualquer pessoa, ainda mais para um filho meu, a quem supostamente só irei querer o bem!
Viva a vontade. Só isso. A vontade, o que eu quero fazer, é o que me torna senhor de mim. E perder essa senhoria, é uma lástima. É decompor o ser humano, e talvez a mais nocivas das decomposições. A liberdade, de ter minhas próprias experiências, de aos poucos ver o que é ou não melhor pra mim... Nenhum pai, nenhuma mãe, nenhuma pessoa que seja tem esse direito! De usurpar a liberdade!
Acho que posso resumir tudo ao maior conselho que poderia dar a alguém (caso alguém queira um): não faça a ninguém o que não gostaria que fosse feito a você. Sigo, desde nem me lembro quando, essa máxima. Acho que único príncipio do meu rol de princípios éticos ao qual não me dou ao luxo de desrespeitar.
A última análise que faço de alguém (digo última, ou inexistente), é sobre sua sexualidade. Até porque creio ser esse campo muito profundo e obscuro, e como disse, não devendo nem ser falado sobre. Não por ser um tabu, de forma alguma. Mas porque não nos leva a lugar nenhum, complexo por demais. (Rá, se assim fosse, não deveríamos discutir nada, porque tudo é complexo nesse mundo. Até 2+2 nem sempre é = 4... Pra se ter uma ideia. Mas enfim...)
E sei também, por experiência própria, que até a nós mesmos é difícil assumir certas coisas. Visto a sociedade em que somos criados, em que vivemos... Ainda resta um ranço, e nem digo exatamente de preconceito... Mas há alguma coisa que nos impede (no meu caso, não mais) de sermos completamente honestos conosco, num diálogo interno, há partes que se calam, que mentem... Eu passei (e ainda passo) por inúmeras sessões comigo mesma, que tem me feito ser sincera e mais feliz comigo mesma. E volto a falar, deixar as amarras da religião, ou de qualquer dogma dela que seja, ou de qualquer coisa que se equipare a ela, é um avanço na melhoria do ser humano sem precedentes. Sobre isso tenho certeza.
Termino dizendo que sinto um enorme prazer e até orgulho por não ter mente obtusa (seria uma forma de altruísmo isso?) ao ver dois serezinhos sendo felizes sem bloqueios de nenhum tipo...
Fazendo o que dá na telha, sem ninguém pra olhar torto, pra dar sermão, pra dizer qualquer merda arrotando superioridade.
Termino (agora sim!) com um célebre trecho, que é o mais verdadeiro: "faz o que tu queres, pois é tudo da lei..."

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Já estamos mortos para o mundo

Entendo os suicidas. A morte vai chegar, pra que adiar? Podemos sim, ainda ter muitas alegrias, como tivemos. Podemos vir a ser algo de bom para o mundo (haha), para nós mesmos. Mas no geral, é apenas luta. Sofrimento. Cansaço. Eu os entendo, o que não quer dizer que tenha vontade de fazer. Aliás, vontade sim. Mas não determinação. Coragem.
Qual diferença fará a nós, após a morte, o que tivemos de bom? Sim, minha mente está se povoando de ideias ateias. Não sei mais. Acho que no final, nada disso daqui vai importar. É tudo muito errado, muito sem sentido. Não pode (sinto cada vez mais não) ter nada além. Então, se eu tiver uma vida imensamente maravilhosa, cheia de amor, riquezas, conquistas. No final, só nos serve nessa (na?) existência. Nesse punctum temporis. Tentando pensar no depois, no além: nada. NADA.
Que seja perene enquanto dure...
Que diferença faz, se eu morrer agora, ou daqui a 10 anos, ou 20, ou 50? Faz diferença no aqui. Mas não importa. Ser feliz AQUI, miserável AQUI. E no final, curioso, (a contrapartida agora, ela sempre vem) importa tudo. Porque estou sentindo, estou vivendo. O que tudo vai acabar um dia. Então, dá vontade de viver, sim, mas com o dedo apertando o foda-se.
Ah, mas o espiritual... Não, não posso ainda me considerar totalmente avessa à ideia do sobrenatural. Admito. Muitos dizem que agnósticos são ateus sem coragem de “sair do armário”. Pois que seja então. I don’t fucking care.
Sigo nessa luta interna...
E acho que não consegui transmitir o real pensamento disso tudo. A merda da “limitroficidade” da língua. Não do meu pensamento. Talvez da minha capacidade de transmiti-lo.
Ah, o título: explica-lo-ei melhor:
De antemão, antes mesmo de nosso corpo parar de funcionar, antes da morte fisiológica, da literal. Já estamos MORTOS. E por que? Porque VAI acontecer. É fato. A única certeza que temos. A cada respirada, a cada piscar de olhos, a cada segundo, morremos mais um pouco. Isso considerando o natural. Porque pode pairar sobre nossas cabeças uma morte extremamente agressiva. Um acidente. Daqueles cheios de sangue e tripas. E aí, acabou. De qualquer jeito, não importa. E, mais ainda: para todos que nos cercam, conhecidos ou não. Depois que nos formos, não fará diferença.
(Talvez unicamente para nossas mães. Para elas, sempre estaremos vivos. Sei por vivenciar a realidade da minha avó, após a morte por câncer de intestino do meu tio. Mas isso é outra história.)
Negócio que me parece que tudo é virtual. A existência é virtual. O real mesmo, o verdadeiro, somente a morte. Ela já existe dentro de nós. Só esperando sair. Ou fora, nos rondando. Em cima de nós. Só esperando entrar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O gato

"O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba receber.”

“O gato nos ensina a espreguiçar com a massagem mais completa. Em todos os músculos, preparando-se para a ação imediata. O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo.”

“O gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Um gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano, mas se comporta como um lorde inglês.”

“O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção.”

Artur da Távola