sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sem paciência

Sobre o post anterior: Não sei como em nome de Jesus fui-me esquecer de comentar sobre  um dos principais livros da minha formação em “Horrologia”: O Exorcista, de Willian Peter Blatty. O conheci também na minha ida adolescência, e é com certeza o livro que mais reli. Meu romance preferido. Minha recomendação, sempre.

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http://www1.folha.uol.com.br/poder/811187-d-odilo-scherer-defende-discussao-sobre-aborto-na-campanha.shtml
Após ler o texto deste link, indignei-me (quem me conhece, vê que fico indignada muito frequentemente. É que não tenho mesmo paciência pra estupidez humana. Se bem que estupidez humana é praticamente uma redundância).
Como se não bastasse ter que lidar com os acéfalos argumentadores (eufemismo este último, estou muito boazinha, pois na verdade não passam de pessoas que resolveram abrir a boca pra sair coisas néscias) na cena política, agora temos esse exemplo (mais um dos) da acefalia "formadora de opinião" da Igreja Católica. E, meu Deus, misturar os dois, que inferno na Terra (uso "meu Deus" e "inferno" como meras exclamação e expressão, não necessariamente dando a entender à qual crença a escritora deste texto segue).
Em que Universo, eu vos pergunto, a opinião de candidatos a cargos políticos sobre aborto, sob o viés religioso, deveria ser levado em consideração na hora de escolher tais candidatos? Nesse planetinha chamado Terra, onde a religião, segundos alguns (leia-se muitos), é fator vital. E agora, mais especificamente, no Brasil. Não que eu esteja fazendo apologia do aborto aqui. Mas, sendo mulher e passível de tal acontecimento, compadeço-me das que sofrem por essa escolha e tento me colocar no lugar. Então, acho assunto completamente pessoal, da mulher ou menina em questão.
A Igreja Católica considera criminoso e pecaminoso encerrar a vida de um bebê, mas fogem completamente do que é mais importante: da vida, já existente, da mulher. E também não consideram a possível vida de merda que esse bebê viria a ter. Pensando então, por exemplo, num caso de estupro. Os católicos acham que vai acontecer o que com a alma do estuprador? Ele está liberado ao reino dos céus, mas a garotinha de nove anos que teve a vida arregaçada (desculpem o trocadilho) vai arder no Inferno? Como isso funciona? E não considerando o post mortem, mas o aqui e agora? Como proceder? As mulheres devem seguir carregando o fruto desse crime tão abominavelmente hediondo? Bem, não consigo seguir lá muito imparcial né, já estou dando minha opinião pró.
Um adendo fora do cerne inicial dessa postagem: agora, se não for caso de estupro? Deixando toda e qualquer opinião religiosa de fora (não que eu tenha alguma formada), mas vendo somente com meus valores sobre a vida, acho que depende do caso, e não vou discorrer sobre minhas opiniões pessoais, o texto não é sobre isso (apesar de já ter opinado, não teve jeito). Como disse antes, decisão única e exclusivamente da mulher. E também do pai da criança, seja seu namorado, marido, companheiro ou qualquer coisa que o valha (não excluo, em hipótese alguma, a participação do homem nessa questão). Pra quem quiser saber, o que euzinha, Juliana, faria, sinceramente não sei. Precisaria estar envolta na situação pra saber.
Voltando à política, o Brasil mostra-se despreparado para levá-la a sério. Muito que evoluir ainda, creio eu, humildemente. Agora, misturar isso com religião é confundir demais a cabeça do médio cidadão, do qual é composta a maioria da população (sem querer ser escrota, mas já sendo, é a verdade e todos sabemos. A parte pensante desse país é minoria, e humildemente me incluo nela. Pode parecer paradoxal e irônico esse "humildemente", mas não é).
A Igreja Católica é como os EUA: adora meter o bedelho onde não foi chamada. E fica dando palpites completamente falhos e inúteis. E nesse caso, vejo aqui simplesmente algum conchavo entre políticos e esses arcebispos de merda, pra arrebanhar ou enfiar na cabeça dos já arrebanhados em quem votar. Infelizmente, sei que a maioria da população é sim católica, e como tal, tende a usar esse viés nas suas escolhas na vida. Tá, não só no catolicismo. É  a essência de toda religião ser doutrinadora nos valores, na ética, no rumo da vida em geral das pessoas.
Acredito no Estado Laico. E o Brasil seguiu muito tempo sendo. Mas agora, já não sei... Entristeço-me com essas coisas. Muito barulho por nada, muito foco no que não tem que ser levado em consideração. O que é importante fica só no plano das ideias, não é discutido. Vejo essas coisas como um tipo de "entretenimento", algo pra desfocar do que realmente tem que ser discutido. Religião, de certa forma, é isso aí. E engraçado, é um assunto que me intriga muito. Gosto de estudá-las cientificamente, entender os processos, como se criaram, antropológica e socialmente falando. Mas não consigo ver minha vida inserida em algum tipo de doutrina, acho tudo isso muito castrador da essência humana. Ter um lado espiritual, exercitar a espiritualidade pode até ser necessário, mas realmente, como boa agnóstica, não sei.
Meu radicalismo em relação a pessoas religiosas diminuiu um pouco (era MUITO), não trato ninguém diferente só por ser crente, judeu, hindu ou o raio que o parta (neste último podem-se incluir as religiões pagãs. Se bem que eu as admiro muitíssimo mais). Mas lá no fundo, não consigo ter um relacionamento normal com pessoas muito religiosas. Se bem que das religiões que conheço algo, a que mais respeito é o espiritismo. Até já me considerei espírita por um tempo, mas por não concordar com algumas coisas, achei melhor me “desconsiderar”. Enfim, assunto demasiado complexo pra uma postagem, e essa já está extensa por demais.

P.S.: Um bom texto a ser lido como complementador, esta entrevista com Ciro Gomes; concordo, em algumas partes, com o que ele fala: http://www.outroladodanoticia.com.br/10/2010/ciro-gomes-mistificacao-em-torno-do-aborto-e-calhordice/

3 comentários:

  1. Eu sou meio descrente (sem trocadilho) que essa praga chamada Religião Oficializada desapareça da terra.
    Ser ateu é extremamente difícil, afinal a decisão sobre o que é "certo" ou "errado" fica exclusivamente a seu cargo... Sem falar no delicioso conformismo que as pessoas encontram em acreditar que haverá algo depois da morte, ou que algum ser invisível irá ajudar a resolver seus problemas...

    E claro, que com essa tentação toda os políticos, demais fdps profissionais não vão perder a deixa, não é?

    Quanto ao aborto, cansei de ver mulheres que sempre se colocaram contra o aborto, correrem pra clínicas clandestinas quando aparece uma gravidez indesejada.
    Como sempre, um ótimo texto, Ju!

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  2. eu acho que política e religião tem seu devido lugar na vida de quem quiser te-las como parte da vida mas que fique claro que devem sempre seguir separadas!

    eu sou muito pró, mas entendo totalmente porque a igreja católica seja contra, a igreja tem seus dogmas e eles são seculares, independem de situações X ou Y, por mais horrendas que sejam essas situações. eu não tenho q concordar, eu respeito apesar de achar uma posição absolutamente inadequada.

    o estado não pode se basear em nenhum desses posicionamentos para ser pró ou contra, obviamente. E os políticos deviam tomar uma dedada no forévis toda vez que misturassem as coisas!

    o aborto devia ser sim legalizado. o casamento gay tb. de repente até algumas drogas. eu sou da seguinte opinião: "não aceita o aborto, não faça. não aceita casamento gay? case-se com alguem do sexo oposto! nao gosta de drogas? nao use!"

    eu mesma não sei se faria um aborto, ia depender muito de todas as circunstâncias envolvidas na gravidez. Mas se eu optasse por fazer, devia estar disponível (ainda que não gratuito, de repente) para mim. na minha opinião, eu estou "poupando" e não "tirando" uma vida, então porque seria eu criminosa?

    ... ... ...

    relações de amizade são muito mais complexas do que soh "amiga" ou "colega", tem umas que são estranhas, não dão para definir! realment não acho que a gente seja só "colega", eu realment ia gostar q vc aparecess por aqui um dia qnd estivr de bob para jogar conversa fora!

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  3. Em primeiro lugar, O Exorcista é o livro mais assustador que eu já li. Só li até o final porque sou teimosa (e tava morrendo de curiosidade.)
    Eu só conseguia ler durante o dia, à noite não podia nem olhar a capa do livro. E eu tinha pesadelos. E foi horrível! Só de lembrar eu tenho arrepios. E não vou reler tão cedo. (Até pq nem preciso. Ta tudo bem gravado na minha cabeça.)
    Enfim... ótimo livro! Recomendável pra quem não é fresca. hahaha

    E quanto ao outro assunto... Bom, pra mim tem que ser "cada um no seu quadrado" (desculpa!!! Não resisti!)
    Eu já não gosto de religiões, acho que limitam demais o pensamento. Tenho até uma certa simpatia pela Wicca, mas não me vejo seguindo nem essa, apesar de não parecer limitar tanto.

    De qualque forma, acho uma covardia usar a religião pra conseguir votos.O povo é muito inocente (ou bobo mesmo, vai saber) demais pra separar as coisas.

    E eu sou totalmente a favor do aborto. Acho que cada um tem que ter o direito de fazer o que achar melhor da própria vida. Pensa comigo: vc é jovem, ta começando sua carreira agora, NÃO QUER FILHOS, não tem condições de criá-los. Por que, meu deus, vc não pode interromper uma gravidez, que obviamente, foi um acidente? (e eu uso "meu deus" igual a vc)
    Por que vc é obrigada a ter esse filho que vc NÃO quer? Não entendo isso. E nem acho justo com a criança, é óbvio! Ela não tem culpa de nada e não merece uma vida escrota pq a mãe foi obrigada e levar a gravidez adiante.
    E pensa também numa outra situação (não tão dramática quanto a de um estupro, mas igualmente preocupante). Pensa nas famílias pobres. Mas pobres mesmo. Que não têm o que comer. Imagina que vida (mais) uma criança vai ter nessa situação.

    Ainda acho o aborto menos nocivo.

    Acidentes acontecem, sabe? Acho justo ter uma opção pra corrigir o erro.

    E mais: se vc é contra o aborto, não faça! Tenha seu filho indesejado e seja feliz! Certo?

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Loqueris!