quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Carmina Burana - Canções dos Beurens

http://www.youtube.com/watch?v=QEllLECo4OM
Poemas dos goliardos (monges e eruditos errantes), encontrados em Benediktbeuern (cidade alemã) no século 19. Carl Orff os musicou, apesar de encontrar junto com o códex um andamento musical, indicando que já eram propícios para tal. A temática gira em torno da Fortuna, deusa romana da antiguidade, em quem os povos antigos depositavam fé, e acreditavam dona de imensos poder e influência na vida (também acham? pois é...), com o dom de ora dar, ora tirar. Pausa pra falar da Antiguidade: todo mito é uma metáfora, claro, mas na sua origem, numa época em que as pessoas realmente acreditavam nos deuses e nos seus poderes, as parábolas (atrevo-me a dizer que a da deusa Fortuna mais que outras) eram de extrema importância, chegando a guiar o rumo da vidas das pessoas, como hoje o deus cristão é para muitos (não vou entrar aqui nas questão de que os cristãos "afanaram" muitos dos mitos e ícones da mitologia dita pagã. Isso é papo pra outro dia). A ciência das coisas da vida, do natural (e do sobrenatural também), são assuntos que o homem desde a antiguidade se ocupa em estudar, entender, e os mitos vieram na tentativa de explicá-los. E mesmo numa época em que eles não mais acreditavam piamente nos mitos e nos deuses, ainda assim prestavam respeito e davam o devido valor a outrora forma de ver o mundo (lembrei agora das feiticeiras de Horácio... praticando o culto à Hécate, faziam simpatias, patuás... algo como uma macumba braba da Antiguidade. Depois escrevo sobre elas.). Voltando ao códex, ele foi escrito numa época (nesse ponto que eu queria chegar) em que os tabus e a noção de pecado ainda não estavam disseminados no pensamento do homem. Século XIII, ainda na gênese dos dogmas cristãos, os monges (e as pessoas em geral), viviam suas vidas, experimentavam os prazeres dela sem culpa. Sem relacionar, qualquer momento de júbilo, à ideia de que eles eram "maus" e iriam para o inferno serem cutucados eternamente pelo tridente de algum demônio. Ler Cícero, ler Catulo, entre outros, nos mostra que para eles, a ética e o bem portar para com as outras pessoas (em suma, ser uma pessoa boa, de bom caráter), nada tinha a ver com o fato de copular com trocentos garotinhos e garotinhas bêbedos de vinho, encher a pança com faisões e leitões e depois dormir 2 dias seguidos. A merda do cristianismo que fez isso com a nossa mente. Pra eles, isso nem era um problema, não havia assimilação entre uma coisa e outra. Tentar imaginar, tentar ter a mesma mentalidade é algo extremamente difícil, e na minha faculdade (fiz Letras- português/latim), éramos obrigados (no bom sentido) a exercitar esse pensamento.Quando digo que é difícil, é porque nós, que somos "modernos" e livres das amarras religiosas que conduzem a vida de muita gente boa, mesmo assim, a noção de pecado não deixa nossas mentes. Sei disso. é algo que é intrínseco à nossa formação, à nossa criação numa sociedade majoritariamente católica. Ler os clássicos, e penetrar na mente dos autores, tentar "incorporar" a realidade da sociedade, era ao mesmo tempo prazeroso e complexo. Já é complicado fazê-lo com um autor moderno e brasileiro, imagina com um autor romano de "apenas" 20 séculos atrás. Comecei a escrever esse texto pra falar dos Carmina Burana, pois faz tempo eles não saem da minha cabeça. Mas alguém pode pensar: estou falando de poemas escritos na Baixa Idade Média, mas também fazendo uma mistureba, falando da era Antiga... Tudo bem, 13 séculos  poderia ser um tempo considerável para mudanças no pensamento humano.Coisa na qual NÃO acredito. Visto que, hoje em dia, o homem  me parece mais medieval (no sentido pejorativo que muitos atribuem) do que os próprios homens medievais. Certos procederes e pensamentos se arraigam na mente humana como um carrapato sedento de sangue o faz num vira-lata, e não mudam assim. É passado por gerações e gerações. E gerações. Vejo essa sociedade em que vivo, como as pessoas ainda são machistas (ok, modelo romano patriarcal impera aqui mesmo, mas não quer dizer que não se possa mudar. Mirem as marchas feministas, que considero até radicais... ops, assunto também pra outra ocasião), são tão atrasadas intelectualmente falando... Deparo-me às vezes com certos indivíduos que fica difícil acreditar que não estou lidando com um camponês que acabou de chegar numa máquina do tempo direto de seu feudo no interior da Alemanha do século XIV... Bom, acho que não estou madura o suficiente culturalmente falando, sou garota ainda nos profundos conhecimentos da humanidade. Mas de uma coisa tenho certeza: muitos dos males da sociedade atual poderiam ser curados (ou evitados), com uma leitura incisiva dos clássicos, ou generalizando, de quaisquer textos deixados pelos antigos (sejam romanos, gregos, egípicios, chineses, celtas...).
Enfim, vida longa à ANTIGUIDADE!! AVE!!


P.S.: A roda da fortuna levou-me agora a uma bela associação com um símbolo de extrema importância para uma outra sociedade antiga que também venero, os celtas... Falo da triskel... Assunto também pra outro post. ;)


P.S.2: As questões tratadas no meu primeiro post foram superestimadas por mim... Nisso que dá, como ariana nervosinha e ansiosa que sou, sair escrevendo de cabeça quente. O diabo nem sempre é tão feio como a gente pinta. Hoje tive um ótimo diálogo com meu chefe, que elucidou vários pseudo-problemas. Mas a luta continua... =)

2 comentários:

  1. Muito interessante o post, bonequinha!
    Tenho vontade de ler mais os clássicos (e naturalmente, você sabe que me refiro aos clássicos clássicos mesmo! rs) e estava querendo começar pelas tragédias...
    Estou para ler Antígona há um tempão... mas ainda não rolou tempo.

    Fico feliz pelo ps2! E de fato, arianas são muito nervosinhas mesmo! rs

    beijos, querida!

    Ps: Te respondi o scrap!

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  2. Mas precisa ler antes Édipo-Rei... Particularmente, prefiro do que Antígona. Preciso ler ainda Édipo-Colono ( a cont. da Trilogia Tebana). Não curto mto Tragédia não, c/ a exceção de Sófocles... Nem conheço mtos, mas ele manda mto! rs. Prefiro Comédia, principalmente o pai dela, Aristófanes... Tem ÓTIMAS peças dele (como Lisístrata... impagável!), de fazer rolar de rir... E às vezes enrubescer até os mais liberais dos mortais... rs.

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Loqueris!