sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Nostalgias

Farei um mergulho a minha infância, uma volta à passagem dos anos 80 aos 90, que, creio eu, a melhor época de se ter uma infância que uma criança pode ter. Eu e meu irmão fomos criados pela minha mãe (meu pai faleceu faltando um mês pro meu aniversário de 4 anos, meu irmão tinha 3 meses), pela minha avó e pelos meus numerosos tios. Devo gratidão a cada um deles. Acho que mesmo vacilante, mesmo insegura, mesmo um pouco ausente, minha mãe foi espetacular. E o mais legal dessa época é que mesmo não tendo a presença no cangote constante dos pais, as crianças viviam e se "criavam", por assim dizer, sozinhas. A violência era quase nula. A tv (algo de extrema importância) era inócua.
Quando não estávamos assistindo desenhos, estávamos jogando vídeo-game (primeiro Atari, depois Master System, depois o Super Nintendo, o divisor de águas, com o bigodudo italiano que cismava de salvar aquela princesa estereótipo de loura, sempre se deixando raptar: Mário. E o derradeiro Nintendo 64), ou brincando com brinquedos supimpas. E mesmo assim, nosso dia parecia ter 30 horas, tínhamos tempo de brincar com as crianças da vila (diga-se de passagem, bem parecida com a do Chaves). Ela ficava no Engenho Novo, bairro perto do Méier. Vivemos lá até os meus 11 anos, depois nos mudamos para um apartamento em Vila Isabel, até os meus 13. Depois fomos morar em Saquarema, onde minha infância começou a minar (não digo isso num mal sentido, é o fato).
Bom, o negócio é que pretendo agora listar alguns fatos e coisas de que me lembro, e creio agora já que não lembrarei de tudo. Mas as memórias continuam, aqui dentro. Para sempre felizes e sapecas como o acordar numa manhã de sol (na temperatura certa naquela época), tomar leite achocolatado (ou com café, vê-se agora onde começou meu vício) feito pela minha avó na mamadeira (tomei mamadeira até os 7 anos. Não me envergonho disso), assistir os desenhos do Programa da Xuxa ainda de pijama no sofá e depois brincar. E tudo isso, com a companhia inestimável de meu irmão, e já naquela época trocávamos desavenças, mas éramos amiguinhos inseparáveis. Brincávamos de playmobil, ele com o playmobil medieval, e eu com o playmobil acidente (sério, vinha um bonequinho grande e um pequeno, com gesso pra ambos, faixas e cadeira de rodas. ISSO era brinquedo). Ótimo era quando misturávamos com minhas barbies (sim, tinha muitas, e era ótima cabeleireira, pintava os cabelos delas de giz de cera.Também era ótima costureira, fazia várias roupinhas de retalhos), com os carrinhos dele, incluindo do Winspector, meu castelo da She-ra e muitas, mas muitas pecinhas de Lego. Éramos apaixonados por Lego. Tínhamos caixas gigantescas, e aqueles temáticos. Bom também era no São Cosme e Damião, saíamos pra pegar doces, e depois quando chegávamos em casa, colocávamos o cocô-de-rato e outros doces em tigelinhas e fingíamos ser cachorros, comendo nelas (vai entender cabeça de criança). Eu e meu irmão aprontávamos muito, nem vai caber tudo aqui. A gente mandava trotes, pegávamos os telefones comerciais que tinham no final da Revista Veja Rio e ligávamos, mas só meu irmão tinha coragem de falar palavrão. Eu ligava e no final ele mandava o atendente tomar no cu, ou se foder, algo do tipo, e desligava. Também derretíamos brinquedinhos de plástico, aqueles baratinhos com a base colada nos pés, na lâmpada do abajur, pra brincar de lanchonete... Sem falar do clássico tocar a campainha dos vizinhos e sair correndo né...
Brincávamos na chuva também. Altos banhos. Lembro de uma vez, sem minha mãe saber, que fui pro meio da chuva de guarda-chuva, no pátio, e fiquei ali sentanda, comendo bis. E quando quebrei o dente? Foi com nove anos. Peguei a bicicleta sem minha mãe saber (isso era prática comum entre mim e meu irmão), pra andar no pátio, e quando fui guardá-la, meu dente bateu no guidão e quebrou, chorei pacas e ainda levei esporro da minha mãe... Lembro também dos Natais e Anos Novos, era uma preparação! Todo mundo se mobilizava com os preparativos. Íamos comprar roupas e presentes. Almoçávamos cachorro-quente pra não sujar muita louça... Também adorava quando minha mãe levava a gente no trabalho dela, em dias especiais, como Dia das Crianças, e éramos tratados muiiiito bem por todos os colegas dela. Arrumavam um computador, e a gente ficava brincando no paintbrush.
E os desenhos? Caverna do Dragão, As aventuras de Mickey e Donald, Smurfs, She-ra, He-man. Também alugávamos fitas dos desenhos do Snoopy e da Turma da Mônica. Revistinha da Turma da Mônica então?? Toda semana, de lei. Aí vieram os animes, Cavaleiro do Zodíaco, depois Sailor Moon, e também aqueles seriados japoneses, Patrine (adorava!), Changeman, Winspector... Não assistíamos programas da adultos, mas não porque nos proibiam, mas porque não tínhamos interesse. E se acaso nós tívessemos, nossa mãe nos explicava docemente o porquê de não assistir (claro que muitas vezes fazíamos escondido, éramos capetas em forma de guri). Mas apesar disso, A inocência imperava, éramos crianças de verdade, em todas as acepções da palavra, na época em que devíamos ser.
Posso dizer hoje que, apesar das doideiras que faço na vida,  minha infância foi e é a espinha dorsal do meu caráter, e que ainda faz parte, como um grilinho falante inconsciente, das minhas escolhas. A aura dos anos 90 criaram as crianças, pro bem. E a parte do meu ser que é feliz, é feliz por causa da minha infância. E será até eu ficar velhinha caquética, sentindo uma lástima imensurável pelas novas crianças que são criadas ao som de eguinhas pocotós da vida.

3 comentários:

  1. Tive uma infância parecida... e de fato, completamente diferente do que eu vejo hoje em dia... =/

    Às vezes eu levo um susto. Vejo crianças fantasiadas de mini-adultos. É assustador.

    Assim, minha infância não foi perfeita. Longe disso. Mas aproveitei bastante... brinquei muito! rs

    Beijinhos, bonequinha!

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Loqueris!